Como age o motorista capixaba no trânsito? Quais das suas atitudes colaboram para infrações, perdas materiais, acidentes e mortes? Onde está a diferença entre respeitar e obedecer a lei por parte desta parcela da população? Qual a fronteira entre o espaço privado e o público e como se comporta o motorista em ambos?
Perguntas como estas formam base da pesquisa realizada pelo antropólogo e professor Roberto DaMatta, contratado pelo Detran-ES por meio da Secretaria de Estado de Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) para desenvolver um estudo sobre o comportamento do motorista capixaba no trânsito, dentro do projeto Igualdade no Trânsito.
O resultado deste trabalho, que é inédito no Brasil, será apresentado por DaMatta no próximo dia 9 de maio, às 9h30, no Centro de Convenções de Vitória.
A metodologia da pesquisa afastou-se dos diagnósticos pontuais de engenharia e de criminalização para focar, de forma ampla, nas idéias e práticas dos cidadãos que atuam neste universo. Desta forma o estudo se presta a elencar sugestões que poderão corrigir as áreas negativas e os comportamentos anti-sociais e agressivos que, conforme estampam as estatísticas especializadas e os jornais diários, configuram o trânsito como anomalia.
O diferencial da pesquisa e conseqüentemente do estudo que será apresentado por Roberto DaMatta é a ligação do trânsito no Espírito Santo com a própria sociedade capixaba, e ambos, com valores e atitudes que norteiam e guiam, dentro e fora do trânsito, o capixaba com o que acontece no restante do Brasil.
Para isso, o ponto-chave da pesquisa e do estudo foi a investigação do trânsito como um conjunto, ou sistema, e não como um elemento, problema ou desafio isolado. O resultado ressaltar as motivações, percepções e valores que os usuários do sistema de trânsito se utilizam quando estão inseridos nele, seja como condutor de veículo motorizado ou não, ou ainda como pedestre.
As pesquisas abrangeram os municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Linhares e São Mateus, onde foram ouvidos motoristas particulares – pessoas que possuem automóveis ou motocicletas e as utilizam para sua locomoção – e motoristas profissionais – taxistas, motoristas de ônibus, motoristas de caminhão e motoboys. Todos eles são pessoas que dependem do veículo como instrumento de trabalho, estão permanentemente no trânsito e utilizam com freqüência absoluta automóveis, caminhões e motocicletas, além de médicos, especialistas da justiça Volante, e outros formadores de opinião que teceram suas considerações a cerca do transito no Estado do Espírito Santo.
O trabalho foi realizado em quatro etapas. Na primeira foi realizada uma pesquisa qualitativa com entrevistas em profundidade feitas com formadores de opinião, motoristas particulares e pedestres. As principais percepções e questões levantadas e apontadas pelos entrevistados tornou-se a base do roteiro de investigação para as demais etapas do projeto.
Na segunda etapa também foi realizada uma pesquisa qualitativa com entrevista em profundidade e uma pesquisa observacional com motoristas profissionais, ciclistas e pedestres. A pesquisa observacional aconteceu em pontos estratégicos durante os períodos de alto fluxo com utilização de câmera filmadora e máquina fotográfica para flagrar as principais infrações cometidas e as reações dos sujeitos envolvidos no sistema do trânsito.
Na etapa seguinte foi realizada uma pesquisa documental que procurou informações sobre a forma como os acidentes de trânsito eram tratados historicamente no Estado e no Brasil, através de pesquisa em jornais, anuários, revistas e demais documentos históricos disponíveis hoje, e na quarta etapa foi realizada uma pesquisa qualitativa com grupos de discussão obedecendo o roteiro base, mas com o objetivo de confirmar as principais hipóteses e informações encontradas e condensadas durante a segunda etapa do projeto. Essa pesquisa foi realizada com motoristas jovens e adultos, homens e mulheres, moradores dos municípios pesquisados nas duas primeiras etapas.
Roberto DaMatta
Roberto DaMatta é o quarto autor mais citado em trabalhos acadêmicos em ciências sociais no Brasil, atrás apenas de três pilares da sociologia: Karl Marx, Max Weber e Pierre Bourdieu.
Sua obra ultrapassa a fronteira da antropologia ao interpretar o Brasil em seus dilemas e ambigüidades. A partir da festa mais popular da cultura brasileira - o carnaval -, DaMatta deixa de lado o Brasil oficial e lança um novo olhar sobre o país, que põe em foco elementos geralmente deixados à margem dos estudos antropológicos.
Nascido em Niterói (RJ) a 29 de julho de 1936, esteve durante a década de 1960 na Universidade de Harvard (EUA), onde concluiu mestrado e doutorado. Voltou ao Brasil em 1970.
Autor de 11 livros e de mais de uma centena de artigos científicos, atualmente ocupa a cátedra Reverendo Edmund P. Joyce de antropologia da Universidade de Notre Dame, em Indiana (EUA), onde leciona desde 1987. DaMatta vive entre os EUA e Niterói, onde passa sistematicamente alguns meses por ano.
Serviço
Apresentação do Projeto Igualdade no Trânsito com o antropólogo Roberto DaMatta.
Data: 09 de maio às 9h30.
Local: Centro de Convenções de Vitória.
Informações à Imprensa:
Informações adicionais:
Assessoria de Comunicação do Detran-ES
Caê Guimarães
(27) 31372627